sexta-feira, 9 de setembro de 2011

No tempo que eu tinha medo do escuro


Eu nunca gostei do silêncio e também nunca consegui dormi no escuro. Eu não sabia se era medo, pânico. Sempre ficava uma inquietação na minha alma, nos meus pensamentos. Eu ouvia a minha respiração, as batidas do meu coração. Eram barulhos insuportáveis. Posso dizer que durante toda a minha vida eu dormi com a televisão ligada, ouvindo o barulho dos outros, e percebo o quanto fui infiel comigo mesma. Hoje sei que naquele silêncio ensurdecedor e naquele escuro temeroso eu encontraria muitas respostas. Ali, era o encontro que eu busco hoje, o encontro comigo mesma. Foram tantas noites que eu insisti em não me ouvir, em não ouvir meu coração. Foram noites que eu recusei ouvir minha própria respiração, era como se eu recusasse sentir que estava viva.

É preciso algum tempo na vida para assimilar algumas coisas, e eu sempre tenho a impressão de que pra mim esse tempo demorou muito. É claro, eu contribui muito pra isso, disso eu não tenho dúvida.  Foram muitas às vezes em que eu me atirei na vida sem nenhuma rede de proteção, é o pior, sempre achei que lá em baixo alguém ia me segurar.

Foram tantos tropeços, quedas, mentiras, falsos sentimentos, trapaças, decepções e ainda há quem diga que a vida é isso mesmo. Não, não é mesmo.

Eu sei exatamente quais foram os meus pecados, eu não fui sempre uma boa pessoa. E sabe do que eu me arrependo?  De ter tentado ser, de ter ido dormir muitas vezes calando a minha voz e ouvindo a voz da televisão, de ter ensaiado muitos textos e não ter subido no palco com eles, de ter aceitado das pessoas o que elas nunca aceitaram de mim. E acredite, ainda existem fantasmas que levarei comigo por um bom tempo.

Mas eu acalmo a minha alma assim, acreditando que na vida a gente leva vários escorregões, uns ralam pouco e outros não, por isso você não vai dando importância. É igual aprender a andar de bicicleta, quando você leva aquele super tombo é que percebe o quanto precisa  aprender rápido, porque a vida não espera.

Talvez eu ainda não esteja tão bem no meu pedalar, mas eu vou devagarzinho, sempre olhando pra frente, uma pedalada atrás da outra com todo cuidado, afinal, já tenho muitas cicatrizes no meu joelho.

E eu já nem tenho medo do escuro e o silêncio não me incomoda mais. Hoje com toda segurança eu desligo a TV, e o único barulho que eu ouço é do meu coração.

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